A transição para um sistema de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) pode trazer mudanças profundas para a economia brasileira. A simplificação do sistema tributário é vista como um caminho para melhorar a eficiência econômica a longo prazo, eliminando a cumulatividade e distorções dos tributos atuais como Programa de Integração Social (PIS) , Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) , Imposto Sobre Importação (IPI), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Imposto Sobre Serviços (ISS). O sócio do Censoni Advogados Associados e especialista em Direito Tributário, Marcelo Costa Censoni Filho, destaca que “a curto prazo, pode gerar incertezas e instabilidades econômicas. O período de transição exigirá adaptações consideráveis por parte das empresas, possivelmente resultando em um aumento dos custos operacionais e administrativos”.
Além disso, a reforma pode impactar a arrecadação de estados e municípios, que precisarão se ajustar à nova realidade fiscal. Censoni Filho aponta que “a modernização do sistema tributário é necessária, mas deve ser feita com cuidado para não comprometer a arrecadação dos entes federativos, o que pode afetar a prestação de serviços públicos”.
Efeitos da unificação dos impostos para Pequenas e Médias Empresas (PMEs)
A unificação dos impostos em um único IVA apresenta desafios específicos para as PMEs. Embora a simplificação do sistema possa reduzir a complexidade do cumprimento tributário, a adaptação ao novo sistema exigirá investimentos em sistemas contábeis e tecnológicos, bem como treinamento de pessoal. Censoni Filho alerta que “as PMEs, que já enfrentam dificuldades financeiras, podem ver sua carga tributária aumentada devido à eliminação de regimes especiais e incentivos fiscais específicos”.
A não cumulatividade do IVA, enquanto princípio positivo, requer uma gestão eficiente dos créditos tributários, o que pode ser oneroso para as PMEs. “A gestão dos créditos tributários será um desafio para as pequenas empresas, que precisarão investir em tecnologia e treinamento para garantir a conformidade com as novas regras”, explica o especialista.
Benefícios previstos pela Reforma Tributária
Entre os benefícios esperados pela reforma tributária estão a simplificação do sistema, redução da burocracia e melhora na transparência e previsibilidade do ambiente de negócios. A intenção de isentar ou reduzir a carga tributária sobre produtos essenciais, como alimentos e medicamentos, visa proteger as famílias de baixa renda. Contudo, a eficácia dessas medidas depende da implementação precisa e da fiscalização para garantir que os benefícios cheguem aos consumidores finais. Censoni Filho afirma que “a redução de distorções e a eliminação da cumulatividade podem incentivar investimentos e aumentar a competitividade da economia brasileira a longo prazo”.
Redistribuição da carga tributária e preço de produtos essenciais
A redistribuição da carga tributária, centralizada no IVA, pode afetar significativamente os preços de produtos essenciais. Embora a isenção ou redução da carga tributária sobre alimentos e medicamentos esteja prevista, há um risco de que o aumento geral da carga tributária possa ser repassado aos preços finais, afetando negativamente as famílias de baixa renda. “Para mitigar esses efeitos, é importante implementar alíquotas diferenciadas e manter políticas de subsídios para produtos essenciais”, sugere Censoni Filho, garantindo que a carga tributária não agrave a desigualdade social.
Desafios administrativos e logísticos na implementação do IVA
A implementação de um novo sistema de IVA apresenta desafios significativos para a administração tributária. Será necessário modernizar e integrar os sistemas de arrecadação e fiscalização, além de treinar agentes fiscais e empresas sobre as novas regras. “A complexidade administrativa pode resultar em dificuldades iniciais, com possíveis atrasos e ineficiências”, alerta o especialista.A interoperabilidade entre sistemas federais, estaduais e municipais será essencial para garantir uma transição suave e eficiente.
Avaliação do “Cashback” tributário para famílias de baixa renda
A proposta de introduzir um sistema de “cashback” tributário, que devolveria parte dos impostos pagos às famílias de baixa renda, visa mitigar os impactos negativos da alta carga tributária sobre o consumo. “Embora a ideia seja bem-intencionada, sua implementação prática pode ser complexa”, comenta Censoni Filho. Identificar precisamente as famílias elegíveis e garantir que o “cashback” chegue a elas de forma eficiente requer um sistema de monitoramento e controle. A medida pode ser vista como paliativa, tratando os sintomas, mas não as causas das desigualdades no sistema tributário.
Além disso, a administração do “cashback” pode adicionar complexidade e custos administrativos ao sistema. A utilização de tecnologias avançadas, como blockchain e inteligência artificial, pode ser explorada para garantir a transparência e eficiência do sistema. “O uso de tecnologias avançadas será crucial para garantir que o ‘cashback’ chegue às famílias de baixa renda de maneira eficiente e transparente”, conclui o especialista.
Fonte: Site Contábil